A Intolerância Religiosa e suas Consequências (Parte 2)

A sociedade já estando constituída e organizada, politica, econômica e  religiosamente, esteve sempre se digladiando pelos séculos afora, através de seus grupos organizados,  em disputa pelo poder e pela dominação do restante do povo, ou dos povos.  Alguns cientistas afirmam que a raça humana se difere da  de outros animais, apenas por ter adquirido  consciência de sua própria existência,  pela busca do conhecimento e também pela conquista do poder.

AKHENATON

O poder constituído e instituído, sempre teve uma dura convivência com o poder religioso, que desde muito cedo, também tratou de se organizar. Sustentados   pela crença que detinham,   o poder divino,  só por ai, já se arvoravam, como até ainda hoje o fazem, os verdadeiros protetores, benfeitores e  orientadores do povo humilde e pouco esclarecido. Afinal se tornaram como ainda hoje o são, os intermediários da relação do homem com Deus. No antigo império egípcio, os sumos sacerdotes se declaravam divinos e como os seus deuses, igualmente  imortais. Houve um Faraó chamado Amenófis IV, também chamado de Amenhotep, e depois ainda, famoso como Akhenaton, que pretendeu acabar com o coorte de deuses egípcios através de um decreto, e adotar a crença monoteísta no Deus Athon.  Acabou assassinado. Isto lá pelos anos de 1.353 A.C.

ADÃO E EVA POR PETER PAUL RUBENS – 1617
(ENCONTRA-SE NO MUSEU MAURITSHUIS DE HAIA – HOLANDA)

Mas a Bíblia, o livro sagrado dos cristãos,  nos relata no seu livro de Gêneses,  cap.1 – vers.1/23, o inicio do mundo, como tendo se dado ha 6 mil anos  atrás. É só seguir a cronologia história do Antigo Testamento. E tendo Deus  criado o mundo, o paraíso terrestre,  todos os seres  viventes, inclusive o homem e a mulher, e os tendo  colocado lá, se deu por satisfeito, e encerrou a sua obra. Mas para grande surpresa de Deus (Ele não sabia que isto ia ocorrer – e ainda resolveu testar a obediência de Adão/Eva, colocando   lá o demônio, disfarçado de uma  serpente, para seduzir  a pobre Eva, e  induzi-la ao pecado). Legal esta atitude divina, que só conhecia o bem e não sabia nada do mal,  ainda  resolveu testar uma sua obra, Ele que também não conhecia o erro, e tudo que fazia era certo, perfeito e bom.  E a pobre Eva caiu na armadilha que Deus lhe preparou. Comeu a tal maçã, errou, caiu em pecado e sofreu do que  se tem noticia, da primeira punição proferida aqui na terra. Na verdade, em um gesto de absoluta brutalidade, intolerância, prepotência,  arrogância, e sem nenhum uso de dosagem penal pelo crime, Deus, nada mais,  nada menos, pune Adão e Eva com a morte, e insere no DNA dos dois, o vírus do pecado original, que é transferido á todas as gerações subsequentes. Mais tarde,  muito mais tarde, Deus resolve isto, com o envio de Jesus aqui na terra para resgatar com a sua morte,  este mal do pecado original.  Muito claro está lá em seu livro,  7.14,  o Profeta Isaias anuncia a vinda de Jesus, isto, 600/700 anos antes. Mais tarde em uma manifestação de confirmação, o Profeta João Batista em seu livro  3.16.18 escreve  ¨Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu filho Unigênito, para que todo que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna (este é  o famoso milagre da  reconciliação de Deus com o homem). Mas a sua intolerância com o homem, está marcada, desde o principio do mundo bíblico.

O DILÚVIO DE MICHELANGELO
CAPELA SISTINA – VATICANO

E, por todo o Antigo  Testamento, o que está ali narrado pelos Juízes, pelos Reis, e pelos Profetas, é uma tempestuosa relação de Deus com o homem. Recorrente  a Deus para tudo, o homem, nem  sempre obediente, muito pelo contrario, vivia era para desobedecer e provocar  a ira de Deus. E Deus punia. Punia sem dó e sem piedade. Os profetas previam e anunciavam os castigos, o próprio Deus de viva voz, manifestava o seu descontentamento através dos profetas e até diretamente com a pessoa em pecado, mas, que,  jamais aprendiam. E O homem sempre  recorrente a cometer erros,  nunca  abandonam  as condenáveis  práticas da vida que lhe foi dada por Deus.  E, é assim por todo o Antigo Testamento. Guerras, disputas, competições, conquistas, derrotas, extermínio. Vale dizer –  Intolerância á todo momento, o tempo todo. E  Deus não perdoa – pune. Diluvio – destruição de Sodoma e Gomorra – morte de Saul e Unção de Davi – destruição de Jerusalém, destruição do Templo de Salomão, escravidão dos judeus, o seu povo escolhido,  no Egito, e  Escravidão na Babilônia.

Mas os hebreus, como monoteistas, adoradores de um  único  Deus, o Javé, passam todo o período de 2 mil anos que constitui o Antigo  Testamento, neste terrível ambiente de guerras, destruições, escravidões,  fugas, retiradas, fome, doença, miséria, fé, e muita intolerância.   

MÁSCARA MORTUÁRIA DO FARAÓ TUTANKHAMON – CRIADA EM 1323 A.C.
MUSEU EGÍPCIO (CAIRO)

Retornando à antiguidade, vamos deitar o nosso olhar, nas origens das religiões, e vamos verificar que todas eram de crenças politeístas. Adoravam vários deuses, e chegavam mesmo a creditar responsabilidades especificas em suas capacidades, Assim é que vamos encontrar na civilização egípcia por volta de 1.350 A.C., mais de 2.000 deuses, até que um Faraó, inicialmente  chamado de Amenophis IV, e posteriormente de Akaneton, resolve através de um Decreto, acabar  com todos os deuses, e transformar a religião egípcia  em monoteista, elegendo úm único Deus para todo o império. O  Deus Aton, que era representado pelo circulo do sol. Terá sido esta atitude do Faraó, uma manifestação de intolerância? Temos que lembrar que os Faraós egípcios eram considerados divinos e imortais. Akhaneton, era especialmente poderoso, pois esposava a mulher que viria a se tornar a mais famosa de todo o império em todo os tempos. A poderosa Nefertiti. E também  era pai do que veio a lhe suceder, e acabou por se tornar também,  o Faraó mais famoso do Imperio.  O Faraó Thutankamon.  Mas, e as consequências da presuposta  intolerância de Akhaneton com os deuses  egípicios? Insatisfação do povo,  e  um grande declínio se abateu sobre todo o  império, com o altíssimo grau de rejeição pela adoção moneteista do faraó. Seguiu  um grande  insurgimento contra a medida. A reação popular  foi de tal monta,  que  todo o exército teve que ser utilizado para conter e controlar a manifestação contrária.  Os prejuízos foram enormes, pois houve até mesmo perda de muitos  territórios, que passaram a ser conquistados e  dominados por outros povos vizinhos e invasores. Morreu supostamente assassinado,  além de ter seu nome sido apagado de todos os  hieróglifos,  e de inscrições em monumentos ou obras públicas.

Da Mitologia Grega, temos um farto e abundante conhecimento. Chegou até aos dias  atuais,   através dos bem preservados  textos chamados de Teogonia, Os Trabalhos e também Os Dias, todos  escritos pelo historiador da época chamado  Hesíodo.

ODISSÉIA – PARTIDA DE TERRAS FENÍCIAS – CLAUDE LORRAIN (1604 | 1682)

Mas, emocionante mesmo, são as monumentais  obras,  Iliada e Odisséia, atribuídas a um poeta nascido na ilha de Quios, chamado Homero.

Nesta obra, além do seu extraordinário valor poético, Homero deixa retratada,  revelada e desvendada,  toda a estrutura ritualística e religiosa do povo grego.

E o que se lê no seu épico poema,   é uma  feroz disputa de poder, conquista  e dominação entre os deuses, semi deuses, outros seres  e até de  humanos.

O incrível entrelaçamento dos personagens no poético enredo, na verdade,   proporciona uma interminável geração de conflitos, decorrentes da mais absoluta falta de tolerância.   Quais as consequências?   Não suportou a evolução do pensamento humano, caiu em descrédito, e desapareceu com o tempo.

Na antiguidade, muito poderíamos falar sobre todos os povos da Mesopotâmia,  mas, vamos deixar esta bela civilização á parte, e vamos nos dirigir muito especialmente ao povo hebreu, pois até parece que a intolerância religiosa surgiu em função deste notável povo.

Sabemos que aproximadamente no ano 2.000 A.C.  Abraham, considerado o pai do povo hebreu, já muito rico, pois que era possuidor de muitos animais e muitos servos, orientado por Deus, retira-se com toda sua família, vassalos, servos e agregados,  de uma próspera cidade situada na Mesopotâmia chamada UR, terra que deu origem ao povo hebreu,   e vai em direção á Canaã.   É a  terra que lhe fora prometida por sua divindade chamada  Javé, e que para o patriarca, era o único Deus existente. No ano de 1.800 A.C., agora já sob a liderança  de seu neto chamado inicialmente  de Jacó, depois Israel, os hebreus, se  retiram de Canaã, e vão para o Egito, onde vivem aproximadamente 500 anos (Êxodo – 2.40)  como escravos,  sofrendo todo tipo de ofensas, humilhações,  rejeições e intolerância.  Na verdade era um povo diferente, principalmente com a sua prática religiosa monoteísta, totalmente contrária aos costumes, e a crença dos  egípcios. Tal intolerância,  resultou na saída de todo o povo hebreu do Egito, lá pelos anos de 1.220 A.C., retirados que  foram pela liderança de Moisés, fato que nos é amplamente  relatado na Bíblia, em seu livro chamado Êxodo, agora, novamente  em busca da terra de Canaã.

ISRAEL NO EGITO – EDWARD POYNTER 1867

Lá chegando, encontram toda aquela terra agora já habitada com forte regime de sedentarismo por vários povos. E o que surge dai?  Surgem guerras.  Lutas e lutas, muitas lutas  pela reconquista da terra abandonada por Jacó há 700 anos atrás. A intolerância gerada neste período, foi de tal monta, que perdura até os dias atuais, representada pelos remanescentes povos que são os Israelenses e os Palestinos. As repercussões deste milenar conflito, espalham-se por todo o mundo, seja de ordem politica, diplomática, econômica ou mesmo religiosa, pois que,  os israelenses são praticantes da religião judaica, os palestinos são mulçumanos, e no meio deles estão  envolvidos  por todos os interesses do mundo, a Rússia e os Estados Unidos.

ANTONIO FERNANDO DOS SANTOS

EM BREVE PARTE 3