A Intolerância Religiosa e suas Consequências (parte 5)

Desde a realização da primeira cruzada,  surgiu também a ordem dos Cavalheiros Templários, fundada em Jerusalém, cujo nome origina-se da palavra templo, ou mais exatamente do Templo de Salomão de Jerusalém. Esta ordem foi criada com o objetivo de proteger os peregrinos que viajavam a Jerusalém e faziam voto de pobreza e de castidade.  Entretanto a ordem acabou por se tornar um grande credor do Rei Felipe – O Belo, que acabou por mandar dizimá-los. Muitos fugiram, e muitos outros foram mortos em fogueiras. Naquela época, existiram por aproximadamente 200 anos, mas a ordem  perdura até hoje como um braço da Maçonaria e alguns estudiosos afirmam que juntamente com os membros das Cruzadas, lá pelos anos de 1100, foram os reais criadores da Maçonaria.

Contemporâneo a estes acontecimentos, outros ocorriam no seio da religião católica. Com a expansão da  religião, ela passou a utilizar os templos e instalações das antigas religiões pagãs,  permitindo que seus adeptos continuassem frequentando os templos e que, com o passar dos tempos se convertessem ao cristianismo.  Tal fato não ocorreu, e foi então iniciada pela igreja católica uma sistemática e permanente  perseguição a toda pessoa que não adotasse o catolicismo, sob a acusação de heresia. E assim foi até que por volta de 1184, o Papa Lúcio III, na cidade de Verona na Itália, instalou o primeiro tribunal de julgamentos dos acusados do crime de heresia. Em 1220, o Papa Inocêncio III, empreendeu  uma guerra de extermínio de todo um povo, os Albigenses ou Cártaros, que apesar de serem cristãos, não aceitavam o comando e a orientação papal. Conta-se que o General comandante do exército, que foi mandado exterminar os Cártaros, ponderou ao Papa Inocêncio III: “Mas Sua Santidade, haverá no seio de todo este povo muitos que se são inocentes. Como matá-los a todos?” Ao que lhe respondeu o Papa: “Cuidemos de matá-los, e a Deus, depois de mortos, deixemos que faça a separação.  Oficialmente a Santa Inquisição,  assim chamada pelos papas, ou ainda de Tribunal do Santo Oficio, foi instalado no ano de 1252, pelo Papa Inocêncio IV, quando fez publicar um documento de fundamental importância para a permissão do extermínio de hereges. Em 1320 o Papa João XXII oficialmente  declarou que a bruxaria e as antigas religiões pagãs, constituíam uma séria ameaça hostil a religião católica. E quem eram estes hereges e bruxos para a igreja católica? Eram geralmente mulheres que praticavam medicina, ministrando chás para os pobres e doentes campesinos. Denunciados  de praticarem outras religiões, e junto ao denunciado, iam também o vizinho, o amigo, o servo, o irmão. Durou 400 anos essa atrocidade da igreja católica. Praticavam todo tipo de crueldades, sob a forma de  tortura e de condenação a morte, geralmente em fogueiras, onde usavam até madeira verde, para aumentar o sofrimento do condenado. Condenavam de qualquer maneira e matavam uma quantidade enorme de pessoas por dia. Só na noite chamada de São Bartolomeu, mataram 70 mil feiticeiros. Das condenações deste tribunais, não escapou nem mesmo um dos maiores gênios que a humanidade conheceu até hoje. O físico, matemático e astrônomo, Galileu Galilei, foi julgado, por ter apresentado estudos científicos  que contestava  algumas crenças da igreja.  Geocentrismo e Heliocentrismo. Para não ser sentenciado, teve que assinar um documento negando a sua teoria, que diga-se, estava certa. Morreu não executado, mas condenado pela igreja, por causa de suas crenças cientificas.  

GALILEU GALILEI APRESENTA SUA TEORIA DO HELIOCENTRISMO (TERRA GLOBO) EM PÁDUA – PINTURA DE FELIX PARRA – 1873
MUSEO NACIONAL DE ARTE – CIDADE DO MÉXICO

Assim como Galileu, outros escritores, pensadores, filósofos e humanistas, tiveram suas obras censuradas e colocadas no famoso Index de livros proibidos. Nestas obras proibidas estavam as de Erasmo de Rotterdam. Estima-se que durante estes 400 anos de existência da Inquisição tenham  sido condenadas e mortas pelo tribunal mais de 9 milhões de pessoas.

Passando por  Portugal e Espanha, onde afirmam os estudiosos ter sido a de maior ferocidade, a inquisição se especializou principalmente na perseguição aos judeus.  O grande colaborador, por interesses territoriais, foi o próprio Rei Fernando de Aragão. E ela chegou também ao Brasil, mas ficou mais  localizada no nordeste, no período  de 1721 a 1777. Mas durante este período, ela foi recrudescendo e na Escócia ela foi abolida em 1736. Na França em 1772 2 na Espanha em 1834.

Chegando aos dias atuais. Vamos encontrar o mundo repleto de intolerâncias. As religião protestante, acabou por se dividir, e passou a adotar centenas de novas denominações, por absoluto interesse comercial. E estão assim espalhadas pelo mundo.

Mas o cristianismo é uma religião monoteísta e o Deus dos cristãos é o mesmo. O que na verdade muda é a prática de seitas e igrejas, sejam católicos ou evangélicos. Tradicionais ou neopentecostais, parecem as vezes, que até cultuam deuses diferentes. O fundamentalismo religioso,  está presente em diferentes doutrinas. Na tradição guerreira dos filhos de Abrahão, judeus, cristãos e muçulmanos, as  vertentes fundamentalistas se sustentam na convicção tribal, de serem cada um destes, o povo escolhido. Ha facções cristãs, que aspiram viver em uma Teocracia e tentam até pela violência letal, obrigar e não convencer todos a professarem a sua fé. São manifestações fascistas e misóginas que solapam a democracia, e retornam à escravidão. O fundamentalismo religioso, é sem dúvida feroz  oposição à liberdade, mesmo em países laicos como o Brasil. Cada facção cristã diz ter o monopólio da verdade. Não é apenas complexo, é terrivelmente complicado. Tem religiões que se acham com o direito de serem a “espada do mundo” e tem a prepotência e arrogância de medirem as pessoas pela fita métrica de sua fé. Chegam mesmo a pretender que as leis de um pais laico reflita a agenda moral de sua religião. O certo é que o ódio do fundamentalismo religioso desagua contra a liberdade no cometimento de crimes contra a individualidade, chegando mesmo alcançar a toda a humanidade. Veja os exemplos praticados pelos diversos grupos radicais dentro do islamismo, como o Al-Qaeda ou mesmo o Boco-Haran na África. E se você bem observar, perceberá  que na sua vizinhança, bem ao seu lado, alguém estará desencadeando ódio e intolerância contra todo o comportamento que não compartilhe a mesma referência religiosa que ele. As religiões de matriz africanas, são as que mais sofrem mas entre os próprios cristãos merece um estudo sociológico a intolerância religiosa existentes entre eles.  A intolerância religiosa de facções evangélicas que se pautam pela Teologia da Prosperidade no Brasil, desrespeitam o republicanismo e permite o fortalecimento de uma guerra religiosa, que nem é em nome de Deus, mas em nome de uma agenda de riqueza, poder, conquista  e prosperidade.

Por Antônio Fernando Santos