Acadêmicos de Venda Nova celebra 20 anos com enredo sobre resistência negra
A escola de samba Acadêmicos de Venda Nova, uma das mais tradicionais de Belo Horizonte, comemorou suas duas décadas de história no carnaval deste ano com um enredo de grande significado: “Vozes do Navio Negreiro”. O desfile exaltou a luta e a resistência do povo negro ao longo dos séculos, reforçando a importância da história afro-brasileira na construção do país.
Marco Aurélio Gonçalves, membro da família fundadora e carnavalesco da escola, celebrou a trajetória da agremiação.
“Pois é, à frente de um carnaval crescente, um movimento forte, 20 anos, 19 desfiles, e a gente está aí firme e forte, todo o trabalho original. Criamos, confeccionamos e mostramos nosso trabalho com orgulho.”
A Acadêmicos de Venda Nova acumula sete títulos de campeã e seis vice-campeonatos em 19 anos. O samba-enredo deste ano, composto por Gustavo Monteiro e Marcelo Roxo, homenageou figuras históricas como Zumbi dos Palmares, Luiz Gama, Almirante Negro e Chico Rei. A letra abordou a discriminação, baixos salários e condições de trabalho precárias enfrentadas pela população negra, trazendo frases marcantes como “Liberdade, ainda que tardia” e “O negro não baixa a cabeça”.
Para Marco Aurélio, a resistência continua sendo um tema fundamental.
“Nunca é tarde para falar de luta e resiliência. Somos o navio negreiro de sapatos, nas favelas, embaixo dos viadutos, no subemprego. A questão da indigência ainda nos assombra.”
Entre os destaques do desfile, o fotógrafo Valdez Maranhão participou da ala dos homenageados e comemorou sua presença.
“Estou muito feliz, ainda mais por desfilar ao lado de amigos. A escola é um sucesso, bacana demais.”
Artistas renomados como Saulo Laranjeira e Serginho Pereire prestigiaram o evento. Saulo Laranjeira elogiou a energia do Carnaval de Belo Horizonte.
“O Carnaval é sempre muito bom, tem muita força, alegria. Uma oportunidade de felicidade em um mundo tão conturbado.”
Personalidades ilustres também marcaram presença, como a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, e as deputadas estaduais Ana Paula Siqueira e Andréia de Jesus. Macaé destacou a relevância do enredo.
“Adoro o Carnaval de BH e a Acadêmicos de Venda Nova é uma escola tradicional. Esse enredo, homenageando Zumbi, Chico Rei e Carolina Maria de Jesus, tem tudo a ver com Minas Gerais.”
Ana Paula Siqueira ressaltou a importância da temática e do Estatuto da Igualdade Racial, recentemente aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
“Foi uma alegria estar aqui, trazendo um tema essencial. A consciência negra se faz com educação, cultura e políticas públicas.”
Fundada em 1º de dezembro de 2004, no bairro São João Batista, a Acadêmicos de Venda Nova tem uma trajetória marcada por enredos que exaltam a cultura e a história mineira. Entre seus títulos, destacam-se os Carnavais de 2008, com o enredo sobre o Rio das Velhas, e de 2014, quando abordou a emoção da Copa do Mundo.
Neste ano, ao dar voz à resistência do povo negro, a escola reafirmou seu compromisso com a valorização da cultura afro-brasileira e a luta por igualdade e justiça social.
“Tivemos a alegria de receber Maranhão, a advogada que cobre nossas causas, a ministra Macaé, as deputadas Ana Paula Siqueira e Andréia de Jesus. Também artistas como Dóris e Serginho Pereira. Foi um grande desfile, uma grande emoção”, comemorou Marco Aurélio Gonçalves.