A Intolerância Religiosa e suas Consequências (Parte 2)
A sociedade já estando constituída e organizada, politica, econômica e religiosamente, esteve sempre se digladiando pelos séculos afora, através de seus grupos organizados, em disputa pelo poder e pela dominação do restante do povo, ou dos povos. Alguns cientistas afirmam que a raça humana se difere da de outros animais, apenas por ter adquirido consciência de sua própria existência, pela busca do conhecimento e também pela conquista do poder.

O poder constituído e instituído, sempre teve uma dura convivência com o poder religioso, que desde muito cedo, também tratou de se organizar. Sustentados pela crença que detinham, o poder divino, só por ai, já se arvoravam, como até ainda hoje o fazem, os verdadeiros protetores, benfeitores e orientadores do povo humilde e pouco esclarecido. Afinal se tornaram como ainda hoje o são, os intermediários da relação do homem com Deus. No antigo império egípcio, os sumos sacerdotes se declaravam divinos e como os seus deuses, igualmente imortais. Houve um Faraó chamado Amenófis IV, também chamado de Amenhotep, e depois ainda, famoso como Akhenaton, que pretendeu acabar com o coorte de deuses egípcios através de um decreto, e adotar a crença monoteísta no Deus Athon. Acabou assassinado. Isto lá pelos anos de 1.353 A.C.

(ENCONTRA-SE NO MUSEU MAURITSHUIS DE HAIA – HOLANDA)
Mas a Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, nos relata no seu livro de Gêneses, cap.1 – vers.1/23, o inicio do mundo, como tendo se dado ha 6 mil anos atrás. É só seguir a cronologia história do Antigo Testamento. E tendo Deus criado o mundo, o paraíso terrestre, todos os seres viventes, inclusive o homem e a mulher, e os tendo colocado lá, se deu por satisfeito, e encerrou a sua obra. Mas para grande surpresa de Deus (Ele não sabia que isto ia ocorrer – e ainda resolveu testar a obediência de Adão/Eva, colocando lá o demônio, disfarçado de uma serpente, para seduzir a pobre Eva, e induzi-la ao pecado). Legal esta atitude divina, que só conhecia o bem e não sabia nada do mal, ainda resolveu testar uma sua obra, Ele que também não conhecia o erro, e tudo que fazia era certo, perfeito e bom. E a pobre Eva caiu na armadilha que Deus lhe preparou. Comeu a tal maçã, errou, caiu em pecado e sofreu do que se tem noticia, da primeira punição proferida aqui na terra. Na verdade, em um gesto de absoluta brutalidade, intolerância, prepotência, arrogância, e sem nenhum uso de dosagem penal pelo crime, Deus, nada mais, nada menos, pune Adão e Eva com a morte, e insere no DNA dos dois, o vírus do pecado original, que é transferido á todas as gerações subsequentes. Mais tarde, muito mais tarde, Deus resolve isto, com o envio de Jesus aqui na terra para resgatar com a sua morte, este mal do pecado original. Muito claro está lá em seu livro, 7.14, o Profeta Isaias anuncia a vinda de Jesus, isto, 600/700 anos antes. Mais tarde em uma manifestação de confirmação, o Profeta João Batista em seu livro 3.16.18 escreve ¨Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu filho Unigênito, para que todo que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna (este é o famoso milagre da reconciliação de Deus com o homem). Mas a sua intolerância com o homem, está marcada, desde o principio do mundo bíblico.

CAPELA SISTINA – VATICANO
E, por todo o Antigo Testamento, o que está ali narrado pelos Juízes, pelos Reis, e pelos Profetas, é uma tempestuosa relação de Deus com o homem. Recorrente a Deus para tudo, o homem, nem sempre obediente, muito pelo contrario, vivia era para desobedecer e provocar a ira de Deus. E Deus punia. Punia sem dó e sem piedade. Os profetas previam e anunciavam os castigos, o próprio Deus de viva voz, manifestava o seu descontentamento através dos profetas e até diretamente com a pessoa em pecado, mas, que, jamais aprendiam. E O homem sempre recorrente a cometer erros, nunca abandonam as condenáveis práticas da vida que lhe foi dada por Deus. E, é assim por todo o Antigo Testamento. Guerras, disputas, competições, conquistas, derrotas, extermínio. Vale dizer – Intolerância á todo momento, o tempo todo. E Deus não perdoa – pune. Diluvio – destruição de Sodoma e Gomorra – morte de Saul e Unção de Davi – destruição de Jerusalém, destruição do Templo de Salomão, escravidão dos judeus, o seu povo escolhido, no Egito, e Escravidão na Babilônia.
Mas os hebreus, como monoteistas, adoradores de um único Deus, o Javé, passam todo o período de 2 mil anos que constitui o Antigo Testamento, neste terrível ambiente de guerras, destruições, escravidões, fugas, retiradas, fome, doença, miséria, fé, e muita intolerância.

MUSEU EGÍPCIO (CAIRO)
Retornando à antiguidade, vamos deitar o nosso olhar, nas origens das religiões, e vamos verificar que todas eram de crenças politeístas. Adoravam vários deuses, e chegavam mesmo a creditar responsabilidades especificas em suas capacidades, Assim é que vamos encontrar na civilização egípcia por volta de 1.350 A.C., mais de 2.000 deuses, até que um Faraó, inicialmente chamado de Amenophis IV, e posteriormente de Akaneton, resolve através de um Decreto, acabar com todos os deuses, e transformar a religião egípcia em monoteista, elegendo úm único Deus para todo o império. O Deus Aton, que era representado pelo circulo do sol. Terá sido esta atitude do Faraó, uma manifestação de intolerância? Temos que lembrar que os Faraós egípcios eram considerados divinos e imortais. Akhaneton, era especialmente poderoso, pois esposava a mulher que viria a se tornar a mais famosa de todo o império em todo os tempos. A poderosa Nefertiti. E também era pai do que veio a lhe suceder, e acabou por se tornar também, o Faraó mais famoso do Imperio. O Faraó Thutankamon. Mas, e as consequências da presuposta intolerância de Akhaneton com os deuses egípicios? Insatisfação do povo, e um grande declínio se abateu sobre todo o império, com o altíssimo grau de rejeição pela adoção moneteista do faraó. Seguiu um grande insurgimento contra a medida. A reação popular foi de tal monta, que todo o exército teve que ser utilizado para conter e controlar a manifestação contrária. Os prejuízos foram enormes, pois houve até mesmo perda de muitos territórios, que passaram a ser conquistados e dominados por outros povos vizinhos e invasores. Morreu supostamente assassinado, além de ter seu nome sido apagado de todos os hieróglifos, e de inscrições em monumentos ou obras públicas.
Da Mitologia Grega, temos um farto e abundante conhecimento. Chegou até aos dias atuais, através dos bem preservados textos chamados de Teogonia, Os Trabalhos e também Os Dias, todos escritos pelo historiador da época chamado Hesíodo.

Mas, emocionante mesmo, são as monumentais obras, Iliada e Odisséia, atribuídas a um poeta nascido na ilha de Quios, chamado Homero.
Nesta obra, além do seu extraordinário valor poético, Homero deixa retratada, revelada e desvendada, toda a estrutura ritualística e religiosa do povo grego.
E o que se lê no seu épico poema, é uma feroz disputa de poder, conquista e dominação entre os deuses, semi deuses, outros seres e até de humanos.
O incrível entrelaçamento dos personagens no poético enredo, na verdade, proporciona uma interminável geração de conflitos, decorrentes da mais absoluta falta de tolerância. Quais as consequências? Não suportou a evolução do pensamento humano, caiu em descrédito, e desapareceu com o tempo.
Na antiguidade, muito poderíamos falar sobre todos os povos da Mesopotâmia, mas, vamos deixar esta bela civilização á parte, e vamos nos dirigir muito especialmente ao povo hebreu, pois até parece que a intolerância religiosa surgiu em função deste notável povo.
Sabemos que aproximadamente no ano 2.000 A.C. Abraham, considerado o pai do povo hebreu, já muito rico, pois que era possuidor de muitos animais e muitos servos, orientado por Deus, retira-se com toda sua família, vassalos, servos e agregados, de uma próspera cidade situada na Mesopotâmia chamada UR, terra que deu origem ao povo hebreu, e vai em direção á Canaã. É a terra que lhe fora prometida por sua divindade chamada Javé, e que para o patriarca, era o único Deus existente. No ano de 1.800 A.C., agora já sob a liderança de seu neto chamado inicialmente de Jacó, depois Israel, os hebreus, se retiram de Canaã, e vão para o Egito, onde vivem aproximadamente 500 anos (Êxodo – 2.40) como escravos, sofrendo todo tipo de ofensas, humilhações, rejeições e intolerância. Na verdade era um povo diferente, principalmente com a sua prática religiosa monoteísta, totalmente contrária aos costumes, e a crença dos egípcios. Tal intolerância, resultou na saída de todo o povo hebreu do Egito, lá pelos anos de 1.220 A.C., retirados que foram pela liderança de Moisés, fato que nos é amplamente relatado na Bíblia, em seu livro chamado Êxodo, agora, novamente em busca da terra de Canaã.

Lá chegando, encontram toda aquela terra agora já habitada com forte regime de sedentarismo por vários povos. E o que surge dai? Surgem guerras. Lutas e lutas, muitas lutas pela reconquista da terra abandonada por Jacó há 700 anos atrás. A intolerância gerada neste período, foi de tal monta, que perdura até os dias atuais, representada pelos remanescentes povos que são os Israelenses e os Palestinos. As repercussões deste milenar conflito, espalham-se por todo o mundo, seja de ordem politica, diplomática, econômica ou mesmo religiosa, pois que, os israelenses são praticantes da religião judaica, os palestinos são mulçumanos, e no meio deles estão envolvidos por todos os interesses do mundo, a Rússia e os Estados Unidos.
ANTONIO FERNANDO DOS SANTOS
EM BREVE PARTE 3