SOBRE PERDAS E … PERDAS

30/03/2020 Paulo Cezar S. Ventura (rolimaeditora@gmail.com)

Sempre gosto de escrever pelas manhãs, tão logo acordo, muitas vezes antes mesmo do desjejum. Ajuda a colocar para fora coisas que andei pensando antes de dormir, até mesmo alguns sonhos, bons ou não tão bons. Claro que nesses tempos de isolamento social os assuntos ficam meio concentrados em poucas coisas: estou contaminado, já que um resfriado me acompanha há uns quinze dias? O que fazer nestes dias para que eles sejam produtivos e possam me trazer não só alguma alegria, como também algo para mostrar depois? E o depois, como será? Essa terceira pergunta é a que menos me aflige, o depois. Prefiro não carregar essa ansiedade no coração. O depois, ninguém sabe. E se alguém vem me dizer que adivinha o futuro, eu digo: é charlatão. O máximo que podemos inferir sobre o futuro são algumas intuições, alguns cenários que mostram caminhos possíveis em função de decisões que podemos tomar hoje. É o que os economistas fazem. E eles erram em provavelmente metade dos casos.

Então, prefiro ser produtivo hoje e ter algo diferente para mostrar depois que a onda passar. E ninguém sabe direito o que pode vir, o que pode provocar o corona vírus, qual o seu verdadeiro potencial de destruição. Temos apenas cenários imaginados por virologistas, infectologistas, economistas, jornalistas e alguns outros istas (como vigaristas). Na China, onde tudo parecia resolvido, novos casos estão aparecendo, por transmissão interna, que a mídia e/ou os médicos denominaram de transmissão comunitária. E em outros países mais atingidos as ações de mitigação ou supressão são variadas e têm obtido mais sucesso aqueles que tomaram decisões de isolamento social mais cedo, o que foi o caso do Brasil. Mesmo assim, com o sucateamento que tem sofrido a saúde, por decisões econômicas do governo de diminuir as ações do Estado aumentando a participação privada na saúde e educação, nós não temos certezas sobre o quê os números publicados dia a dia querem nos dizer, para que possamos traçar nossos cenários individuais e coletivos.

Uma coisa parece estar certa. Quanto maior o isolamento social agora, maior poderá ser a perda econômica do momento, mas seus efeitos serão muito menores no futuro. Claro que demoraremos alguns anos para recuperar as perdas, mas quanto mais mortes tivermos maior será a perda tanto agora quanto no futuro. E mais lenta será a recuperação. Muitas mortes, recuperação mais lenta. Esta relação entre vida e economia, os analistas (aqueles istas que relacionei acima) e políticos não estão fazendo: qual a perda econômica de uma vida perdida? Sem contar as perdas emocionais, os lutos, as depressões, as raivas, etc.?

E não pensem que, por matar mais idosos que jovens atuantes no mercado de trabalho, a perda econômica será menor. Os idosos e os velhos são nossa memória afetiva e nosso suporte emocional e econômico. O dinheiro de aposentadoria que eles ganham ajuda a mover a economia e, em muitas famílias, são a garantia do pão na mesa todas as manhãs.