A Intolerância Religiosa e suas Consequências (Parte 3)

Vamos retornar ao ano 1.200 A.C. data da chegada dos judeus á Terra de Canaã. Neste momento vamos  encontrar o povo judeu divididos em 12 tribos. Compreende  as 12 tribos de Israel  como sendo e tendo como lideres, 10 que eram  filhos  de Jacó, e 2 que eram filhos de José, e que foram  adotados por Jacó. São eles: Ruben, Simeão, Judá, Zebulon, Isacar, Dã, Gade, Asser, Naftali, Benjamin Manasses e Efraim (os dois últimos, filhos de José,  aquele mesmo, o famoso José do Egito). Foram abençoados por Jacó, e  responsabilizados para formarem as 12 tribos, estando aí muito certamente a fundação do povo judeu. E viveram em paz?  Não. Muito ódio, muita disputa, viviam lutando entre si,  pela conquista de terras e dominação de uns pelos outros. Estava lá instalada a total e irrefreável intolerância. Mas como havia inimigos comuns a eles, que eram os povos anteriormente já estabelecidos,  conseguiram se organizar em uma confederação politica/religiosa, e dominaram todas as cidades estados da Terra de Canaã. Com este domínio, dividiram-se em dois reinos, o de Judá ao Sul e o de Israel ao norte,  e  sob a liderança do Rei Davi, se reunificaram, como o povo judeu.  Mas, foi tudo nascido e construído em cima de muitas lutas e muitas práticas  de ódio e intolerância entre eles mesmos.

12 TRIBOS DE ISRAEL – PINTURAS EM TAMANHO NATURAL DE FRANCISCO ZUBARÁN MUSEU DO CASTELO DE AUCKLAND – INGLATERRA

Vamos chegar aos anos 600 A.C., e vamos encontrar o povo judeu novamente envolvido com muito sofrimento, muita dor e muita intolerância. Desta vez invadidos e dominados pelo Império Babilônio, e  para a Babilônia são levados como escravos, sob o ódio, a inveja, o rancor e a intolerância do Rei Nabucodonosor. Neste momento ocorre ao que se chama da primeira diáspora dos judeus, que é a dispersão do povo por todo o mundo.

Não passou muito tempo, e em 550 A.C., aparece os persas liderados pelo Rei Ciro que dominam os babilônios e libertam os judeus que retornam ao reino unificado de Judá, que  reconstroem a cidade de Jerusalém e o templo de Salomão.

O TEMPLO DE SALOMÃO VISTO POR PHILLIPE DE CHAMPAIGNE
METROPOLITAN MUSEUM – NEW YORK

Mas a partir daí, o que  houve foi uma sucessão de humilhações, agressões, domínios e escravagismos. Todos os impérios poderosos da época dominaram e escravizaram os judeus. Primeiro os egípcios,  seguidos pelos gregos e finalmente os romanos., que destruíram pela segunda vez o templo de Salomão, e toda a cidade de Jerusalém, isto já nos anos 70 D.C.

Como se observa, o povo judeu através de seus 4.000 anos de existência, foi um povo  marcado pela escravidão, dominação, humilhação, ofensas  e intolerâncias de  toda ordem.  Através de suas diásporas, se espalharam pelo mundo, ofendidos e intolerados, se tornaram um povo notável pelas próprias condições que  a intolerância lhes impunha e já agora no século 20 de nossa era, localizados que estavam em grande parte  na Alemanha, foram mais uma vez vítimas inocentes,  agora dos nazistas, que aniquilaram de maneira cruel, perversa e animalesca, com a vida de mais de 5 milhões de judeus. Mas o resultado ai esta.  São notáveis em tudo. Em toda atividade humana se notabilizam como sendo os melhores, e muito difícil é encontrar em qualquer meio, seja financeiro, econômico, nos vários campos da ciência, nas letras e nas artes, algum nome famoso, que não seja um descendente judeu.

ECCE UOMO DE ANTONIO CISERI – 1860|1880
PONCIUS PILATUS APRESENTA JESUS AO POVO
MUSEO CANTONALI D’ARTE | LUGANO – SUÍÇA

E falar de intolerância religiosa, é falar do cristianismo no seu surgimento como sendo uma nova  religião, pregada pelos apóstolos. No próprio julgamento de Jesus Cristo, o que se assistiu foi um homem chamado Poncius Pilatos então Governador da Judéia pelo império  romano, tentando  de todas as maneiras salvar aquele homem, e  que dizia a todo momento não ver nele crime nenhum. Mas foi debalde, pois a multidão insuflada pelos Sumos Sacerdotes praticamente exigiram de Pilatos a sentença de morte para Cristo. Na verdade, Cristo foi sentenciado pela inveja, pelo ciúme e pela intolerância dos Sumos Sacerdotes chefiados por Caifaz, que não deixaram nenhuma outra opção a Pilatos, senão a sentença de morte para aquele homem, que dizia ser o próprio filho de Deus, e por isto mesmo, era também Deus. Existe uma versão que Jesus também, em momento algum se defendeu. Pilatos convencido da inocência de Jesus, em determinado momento chegou a lhe dizer ¨Homem – eu tenho o poder de lhe libertar ou de lhe condenar. Dize-me uma só palavra em sua defesa que lhe libertarei¨. E Jesus nada disse. Neste momento, Pilatos lava as suas mãos,  e diz. ¨O sangue deste homem, não correrá sobre mim¨¨. E Jesus foi condenado apos aquele episodio da escolha Dele ou do bandido  Barrabás.

Após a morte de Jesus, já haviam muitos cristãos em Jerusalem, e haviam os apóstolos, homens seguidores de Cristo, que tinham o compromisso de pregar o evangelho, ou as boas novas, ou a Doutrina  Cristã, assim denominada, pelo nome de Jesus Cristo. Foi este um dos últimos pedidos de Cristo aos seus discípulos: 

¨Ide pois por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda criatura ¨Marcos 16.15.

E assim saíram mundo afora, para a pregação do evangelho aos que chamavam de gentios, ou povos pagãos. E começa a ser construído  um novo destino para estes homens. Muitos se dirigiram para a Grécia, outros para Roma, e outros ainda para a Ásia. E  todos, por onde passavam sofriam as penas da intolerância, das agressões físicas, das perseguições de todo tipo e até da morte. Paulo de Tarso, o mais  erudito dos apóstolos, depois de percorrer toda a Grécia, se dirigiu a Roma para um encontro com Pedro que lá se encontrava. O ambiente de Roma, era de total perseguição e extrema intolerância com os novos Cristãos, que tinham  que viver de maneira clandestina, e se comunicando por sinais. Quando apanhados e presos, eram atirados aos leões famintos, nos circos de gladiadores, ou queimados vivos em fogueiras. Nero o Imperador da época, mandou  atear fogo na cidade em cumprimento de uma de suas sandices e loucuras, e mandou colocar a culpa nos cristãos. Paulo o apostolo, foi preso e acusado disto – foi condenado e morto decapitado. Pedro foi morto crucificado, e todos os outros sofreram mortes violentas  por acusações injustas, cujo único motivo foi a intolerância religiosa.

Foram trezentos anos de sofrimentos, acusações, perseguições e morte. E chegamos no ano de 324 C.D.  e encontramos o império romano praticamente destruído pelas mas administrações dos Césares, e agora dividido em dois impérios.  O do Oriente e o do ocidente. O do oriente tinha como  seu César, o Constantino. Era filho de uma mulher que ficou na história chamada de  Helena de Constantinopla que a muito estava  convertida ao cristianismo. Convencido por ela, Constantino que já tinha unificado o império em apenas um, através do Edito de Roma, concede liberdade à prática religiosa, e assim termina o sofrimento dos cristãos.

A MALDIÇÃO DA DESTRUIÇÃO DO IMPÉRIO – THOMAS COLE – 1836
ENCONTRA SE NO MUSEU DA NEW YORK HISTORIC SOCIETY

Estamos entrando na era Feudal. O domínio é de tribos atrasadas, selvagens, os que antes eram chamados pelos romanos de povos bárbaros, agora se tornaram  senhores e dominadores. Germânicos, Vândalos, Godos, Visigodos, Húngaros, Anglos, Saxões, Gauleses, os terríveis Hunos e outros. Estes  são os bárbaros.  

E vamos viver um período aproximado de mais de mil anos, em total obscurantismo. Foi a chamada idade negra da história. E é neste período de grande atraso, que crescem e prosperam de um lado as monarquias absolutistas, dominadoras e donas de tudo, De outro lado a igreja cristã, agora chamada  católica romana, o que lhe dava o sentido de uma igreja universal. Fome, miséria, doença e morte. Era o que grassava pelas ruas das cidades.  Enquanto isto a  monarquia se fartava de poder,  riqueza, luxo e desperdício. Os Papas, mandatários supremos da Igreja, para não ficarem atrás, abençoavam a monarquia, e deles recebia   também muito ouro, muita riqueza. Aos reis os palácios, á igreja os templos e obras de arte, tudo ornado em bom e maciço  ouro além de permitir ao clero, total  domínio sobre os humildes através da palavra de Deus. Afirmavam  mesmo aos fieis, que era obrigação deles, dever total submissão aos reis, pois  o  poder deles vinha de Deus, e portanto não podia ser contestado. Esta crença somente veio a ser desmitificada muito tempo depois nos movimentos que resultaram na Revolução Francesa de 1.789.

“A LIBERDADE GUIANDO O POVO ” DE EUGÈNE DELACROIX – 1830
MUSEU LOUVRE-LENS EM PAS-DE-CALAIS – FRANÇA

Voltaire, Montesquieu e Russeau, além de outros  filósofos e pensadores  do chamado período do Iluminismo francês, se insurgem contra esta situação cruel, maldosa e perversa do clero, e fazem a população entender, que poder nenhuma vinha de Deus, mas, sim do próprio povo. E  neste momento que Montesquieu através de sua monumental obra  ¨O Espirito das Leis ¨, formula esta que é o pensamento que até hoje norteia a formação do governo do estado moderno.  ¨O poder emana  do povo, pelo povo e para o povo¨.  À partir dai Jean Jacques Russeau, escreve outra monumental obra, ¨O Contrato Social ¨, e dá as linhas definitivas de como teria  que ser um governo. Estruturado em  três poderes atuando independentes, o Executivo, o Legislativo e Judiciário. E foi ai que caiu a Bastilha, e caiu 1.500 anos de exploração humana através do que foi o regime feudal

POR ANTONIO FERNANDO DOS SANTOS

EM BREVE PARTE 4