Pesquisa da UFMG analisa como a religião evangélica influencia a inserção de trabalhadores no mercado de trabalho

Uma nova pesquisa realizada por cientistas sociais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) investiga como a religião evangélica pode impactar a carreira profissional no Brasil. O estudo, que avaliou o perfil de 900 pessoas evangélicas em três capitais do Sudeste (Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo), revela que o crescimento da comunidade evangélica no país tem alterado as dinâmicas do mercado de trabalho, ampliando as oportunidades para seus adeptos.

Desde os anos 1980, a população evangélica no Brasil cresceu significativamente, passando de 6% para pelo menos 22%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse aumento não apenas reflete uma mudança nas religiões predominantes, com o catolicismo perdendo espaço, mas também no campo da empregabilidade. Segundo os pesquisadores, uma das vantagens de ser evangélico no mercado de trabalho é a percepção de que essas pessoas são mais confiáveis. A ideia de que os evangélicos, como grupo, são responsáveis, não consomem álcool e possuem valores éticos fortes pode reduzir resistências por parte dos empregadores, principalmente em relação a grupos minoritários como mulheres e negros.

O estudo também destaca que, mesmo em igrejas com forte viés patriarcal, há uma abertura para o empoderamento financeiro das mulheres, muitas vezes incentivadas a trabalhar para contribuir com a comunidade. Além disso, as igrejas evangélicas formam uma rede de indicações eficaz, especialmente entre as camadas de baixa renda. O professor Silvio Salej, um dos responsáveis pelo estudo, explica que, ao contrário do que se pode imaginar no contexto digital, o “boca a boca” continua sendo um método importante para a obtenção de emprego, especialmente entre os mais pobres.

Porém, os pesquisadores alertam que os empregos obtidos dessa forma muitas vezes não são bem remunerados. “Não podemos pensar que a simples afiliação religiosa trará empregos bem pagos se a educação não avançar também”, afirma Salej. Ele observa que, embora a religião desempenhe um papel importante como rede de proteção no mercado de trabalho, há limites impostos pela educação e pela situação macroeconômica.

A pesquisa sugere que a religião, especialmente a evangélica, deve ser considerada em futuras pesquisas sobre o mercado de trabalho no Brasil, dado o seu impacto crescente nas estruturas sociais e econômicas do país. O Brasil, que ainda mantém o maior número de católicos do mundo, está se tornando cada vez mais um país plurirreligioso.

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