Intolerância Religiosa Cresce 66,8% no Brasil e Atinge Principalmente Religiões de Matriz Africana

A intolerância religiosa continua a crescer no Brasil, com um aumento expressivo de 66,8% nas denúncias registradas entre 2023 e 2024 pelo Disque 100. Os dados do Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos revelam que os principais alvos são as religiões de matriz africana, como a umbanda, que lidera a lista com 151 denúncias, seguida pelo candomblé, com 117 casos registrados. Outras religiões afro-brasileiras também sofreram 21 ataques documentados.

BH e Região Metropolitana: Cenário Preocupante

A realidade de Belo Horizonte e região metropolitana reflete essa tendência preocupante. De acordo com Makota Celinha Alves, coordenadora geral do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab) de Minas Gerais, os ataques a terreiros e espaços religiosos têm se intensificado. “Em Belo Horizonte ainda há muito preconceito. A cidade carrega uma carga de racismo que se reflete na intolerância contra as tradições de matriz africana”, afirma.

Para combater essas agressões, o Cenarab, em parceria com a Associação da Defensoria e dos Defensores Públicos de Minas Gerais (Adep-MG) e a Guarda Municipal de Belo Horizonte, desenvolveu o projeto Espaço Sagrado, Espaço Protegido. A iniciativa consiste na instalação de placas nos espaços religiosos, com o objetivo de inibir ataques e ameaças. Segundo a Adep-MG, o projeto teve impacto positivo, reduzindo as denúncias em cerca de 90%. “Essa política mostrou-se eficaz porque representa um reconhecimento do Estado”, destaca Makota Celinha. O projeto recebeu o Selo Esperança Garcia: Boas Práticas Antirracistas nas Defensorias Públicas do Brasil do Conselho de Ouvidores Gerais das Defensorias Públicas.

A Identidade Cultural de BH e as Religiões de Matriz Africana

Apesar do histórico de ataques, as tradições afro-brasileiras estão profundamente enraizadas na identidade cultural de Belo Horizonte. “Difícil encontrar uma família que nunca tenha recorrido a um banho de ervas, a uma bêzedura contra mau-olhado ou que não tenha uma planta de proteção em casa”, lembra Makota Celinha. Para ela, o preconceito contra as religiões de matriz africana está diretamente ligado ao racismo estrutural.

Celebração e Resistência: O Evento Africanilê

Para fortalecer e preservar a tradição afro-brasileira, o terreiro de umbanda Omolokô Ilê Axé Guian realiza neste sábado (22) o Africanilê – 1º Encontro Inter-Religioso do Ilê Axé Guian. O evento, que celebra o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, acontece na Rua Caldas da Rainha, 1.710, no bairro São Francisco, região da Pampulha, a partir das 15h.

A produtora cultural Vanessa Vorcaro Mallaco explica que a ideia surgiu após a sanção da lei que oficializou a data de 21 de março. “Sentimos a necessidade de celebrar e tornar esse dia um marco. Queremos trazer a África para o terreiro, não apenas na religiosidade, mas também na cultura, na arte e na música”, destaca.

O evento conta com atividades culturais como contação de histórias, oficinas de dança e escultura, brincadeiras para crianças e adultos, rodas de capoeira e, no encerramento, uma gira. Os ingressos podem ser retirados pelo Sympla.

Vanessa reforça que a conscientização é essencial para combater a intolerância. “A melhor maneira de lutar contra o racismo e o preconceito é por meio da informação e do diálogo. Acreditamos que ‘não há salvação fora do fazer’, então seguimos fazendo”, conclui.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *