Pesquisa em Minas Gerais pode transformar a teoria sobre a evolução humana

Uma pesquisa inovadora realizada na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, em parceria com o Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, tem o potencial de revolucionar o entendimento sobre a evolução humana.

O estudo, que acompanha o comportamento de macacos-prego, revelou que esses primatas são capazes de usar ferramentas rudimentares para quebrar frutos, uma descoberta que remonta ao comportamento dos primeiros hominídeos. A pesquisa identificou que as pedras utilizadas por esses macacos para romper cascas de frutos produzem lascas semelhantes às que foram encontradas em sítios arqueológicos e atribuídas aos primeiros seres humanos.

O dado mais surpreendente é que os macacos-prego não utilizam as pedras de forma intencional, o que levanta uma nova questão sobre a interpretação da produção de pedras lascadas na pré-história. Até então, acreditava-se que a fabricação dessas lascas era um sinal de sofisticação cognitiva e um reflexo de um desenvolvimento cerebral superior, o que seria um marco na evolução humana. Contudo, se esse processo ocorrer de forma não intencional nos macacos, como indicam os pesquisadores, isso sugere que o mesmo pode ter acontecido com os primeiros hominídeos.

Waldney Pereira Martins, professor do Mestrado em Biodiversidade e Uso dos Recursos Naturais da Unimontes e um dos responsáveis pela pesquisa, sugere que os primeiros hominídeos poderiam, de fato, não ter tido a intenção de criar ferramentas. Ele especula que os hominídeos poderiam estar apenas tentando abrir um fruto com pedras, e as lascas geradas acidentalmente poderiam ter sido aproveitadas como ferramentas. Se essa teoria se confirmar, a evolução humana poderia ser repensada, já que não teria ocorrido um “salto evolutivo” tão grande na inteligência dos primeiros seres humanos.

Além dos macacos-prego, outras espécies de primatas também são capazes de produzir lascas de pedras, o que foi observado pela pesquisadora Lydia Luncz, do Instituto Max Planck. Ela detectou o mesmo comportamento em chimpanzés na Costa do Marfim e em macacos da espécie Macaca fascicularis, na Tailândia. Esse achado reflete uma nova perspectiva sobre a evolução das ferramentas e dos comportamentos primatas.

O estudo não se limita aos macacos-prego e visa expandir as observações para outras espécies e contextos ecológicos. O próximo passo da pesquisa envolve o processo de habituar os macacos, com o objetivo de entender os processos ecológicos que influenciam o uso das ferramentas, como a escassez de recursos. O projeto também planeja expandir os estudos sobre como os comportamentos de uso de ferramentas são aprendidos, enfatizando o papel da observação entre os mais velhos e os mais jovens.

Esta pesquisa pode alterar profundamente a visão atual sobre os comportamentos e habilidades cognitivas dos primeiros seres humanos, ampliando a compreensão sobre a evolução das ferramentas e da cultura entre os primatas.

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